Caos a vista! Aumento da compra de uniformes militares, ex-soldados empolgados e muita gente querendo quebrar tudo... Uma sopa que pode retroceder o país em 30 anos.
No contato me explicaram que iriam tentar invadir o Congresso Nacional com uma lista de
reivindicações entre elas o fim dos supersalários e que só sairiam de lá depois
que um representante das forças armadas os atendesse. Disseram pra manter em sigilo a coisa e que a ação poderia convencer os militares a realizar uma intervenção militar, que assim seriam convencidos de que a sociedade os apoiaria nisso.
Não acreditei que teriam coragem de colocar em prática a empreitada, um tanto quanto ousada, mas mesmo assim expliquei
que esse tipo de coisa não cabe em um estado de direito, que alguém poderia se
machucar, que não havia possibilidade de um general atendê-los, que não cabe às Forças Armadas intervir na política e que o máximo
que conseguiriam era sair de lá presos.
Não receberam muito bem o meu conselho. Como sempre, fomos chamados de melancias, comunista e essas coisas. Disseram até que a Revista Sociedade Militar era financiada pelos chineses.
Daí surgiu uma “ondinha” de ataques contra minha
pessoa e nossa publicação.
Realmente em
novembro de 2016 cerca de 50 pessoas invadiram a Câmara dos Deputados,
justamente na hora em que um militar discursava, o deputado capitão Augusto. Não foram atendidos em absolutamente nada, não foram ouvidos por um general - as Forças Armadas não se metem nesse
tipo de coisa - não conseguiram o atendimento de nenhuma das reivindicações e
acabaram sendo ridicularizados pela mídia.
Agora, 5 anos depois e justamente quando o país tem um presidente de direita, vemos a coisa se repetir em dimensão bem maior. Em sete de setembro é possível que se quebre os vidros do STF e a portaria do Congresso Nacional, mas isso não significará expulsar os ministros ou os deputados de lá. Aliás, eles estarão certamente em casa vendo tudo pela televisão, gozando de suas regalias e de seus supersalários que – aliás – agora foram concedidos também para os generais que exercem cargos no governo.
E se quebrarem as vidraças, portarias, roletas... e entrarem no Supremo Tribunal Federal, vão fazer o que depois, vão empossar quem como ministro do STF?
Nossa
democracia, que evidentemente ainda está em crescimento, em consolidação, não se sustenta sobre
prédios e vidraças e não vai ser uma quebradeira geral que vai nos fazer
retroceder até os anos 50 ou 60, ainda que muitos – de vários espectros
políticos – insistam em reviver esse período no seu dia-a-dia.
Mas,
felizmente, não são a maioria, não passam de uma malta barulhosa.
Pelo que soube por meio de portais de notícias, tem muita gente comprando uniformes militares e há pessoas que - tendo apenas prestado serviço militar inicial - que se autodenominam veteranos das Forças armadas - falando na formação de “pelotões”, dizendo que reservistas devem orientar o povo para o "combate".
Isso é muito perigoso!
O paisano não pode se sentir como um militar, muito menos pode sentir-se no direito de aplicar a força para fazer valer sua visão de mundo e é preocupante quando percebemos que todas as vezes que há um período de crise, de insatisfação, joga-se nos militares a responsabilidade por "acertar os eixos" do caos em que nos metemos.
Uma sociedade que não consegue resolver os próprios problemas tende a se manter sempre como uma espécie de adolescente político, permanecendo imatura e incapaz de encontrar formulas pacíficas de resolver os problemas do país.
Quem incentiva o uso da força para resolver questões políticas corre um risco muito grande de fazer com que pessoas se machuquem.
Como há muita gente bem empolgada é preciso lembrar também que, segundo a CF1988, ninguém pode levar armas para uma manifestação, nem mesmo militares de folga.
Há alguns anos, quando a esquerda comentou sobre um tal “exército” de Lula, militares e conservadores em geral rechaçaram as declarações, diziam que o Brasil possui um só Exército, o de Caxias. Instigo-os a dizer a mesma coisa novamente.
Muitas vezes
no passado ouvi pessoas comentando sobre a necessidade dos líderes de esquerda
declarar – em relação ao MST – que não se deveria fechar estradas ou invadir
terra alheia, manifestando-se claramente quanto ao fato desse tipo de coisa se
configurar como crime. Hoje percebo que o governo age exatamente do mesmo jeito
não dissuadindo seus seguidores de cometer crimes.
É preciso
ser bem claro, chega desse papo de 4 linhas, de artigo 142 e frases de duplo
sentido, que sempre deixam algo implícito. É necessário que o presidente diga
que não apoia invasão de prédios públicos, que não apoia deposição pela força
de detentores de cargo público, que não apoia o uso da violência para alcançar
objetivos políticos.
Mais uma vez, como ocorreram antes de outras manifestações a favor de Bolsonaro, ouve-se pessoas dizer coisas como: _agora vai, é a última manifestação, é a nova independência!
Qualquer um
que ousa parar pra pensar enxerga que essa coisa toda pode terminar em
tragédia, em gente morta e – por fim – se isso acontecer, é provável que o Presidente
da República seja responsabilizado e que a coisa acabe justamente na deposição do
líder de direita que esse povo tanto lutou para emplacar como presidente da
república.
Lamento muito tudo isso!
Robson Augusto é militar na reserva remunerada, cientista social e jornalista
Excelente texto.
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