Uma PEC irrelevante feita por quem não entende absolutamente nada de militares


“Você pinça um jovem de dentro da sociedade, coloca-o dentro de um quartel, educa-o desde adolescente idolatrando pessoas que nunca se importaram com a democracia, com valores diferentes, debaixo de regras diferentes e agora diz que ele tem menos direitos que os demais membros da sociedade... você está a criar um monstro que não pensará duas vezes se for induzido a se voltar contra a sociedade... Essa medida, na verdade punitiva, é burra. Pois não foram militares que se candidataram a cargos políticos que enfiaram as Forças Armadas nesse redemoinho político... quem fez isso estava na cúpula armada e nunca se candidatou”


Frases e textos sem revisão sobre essa tal PEC "revolucionária"

Uma revisão rápida sobre quem são os militares das Forças Armadas que de alguma forma fizeram parte dessa reintrodução das três instituições armadas na política partidária vai mostrar que quase todos, se não todos, são oficiais generais nos últimos postos e que as posições de destaque que ocuparam e que permitiram que tivessem força suficiente para fazer o que fizeram não foram alcançadas por meio do voto.

Pausa faço para dizer que destaco o termo "política partidária" na medida em que as Forças Armadas jamais se afastaram da política.

Alguns pontos... de muitos, sobre a descarada politização dos generais, que independe de votos. 

  1. A estranhíssima proximidade de militares com políticos, incluindo a presença de assessorias parlamentares implantadas dentro do próprio Congresso Nacional é uma evidência disso. Os militares não vão lá uma vez ou outra, eles moram lá dentro.
  2. A listagem de condecorações e títulos nobiliárquicos (cavaleiro, comendador, grande oficial...)  distribuídas para deputados, senadores e prefeitos e a recusa em apresentar as justificativas é outra, e
  3. Por último - a quantidade de oficiais generais que ocupam cargos comissionados de grande status  - independente do viés dos governos e salário - é outra e - alias, um dos principais objetivos e consequência das duas primeiras.

Cargos e poder são o que os generais mais amam. Estão desde crianças dentro das FA aprendendo a desejar isso... muitos aprenderam com os pais. As condecorações distribuídas para políticos são clara evidência de que procuram a simpatia de todos os partidos, querem ficar bem com todos, visando alcançar seus objetivos. Revelações do general Villas Bôas também mostram isso. (Veja esse texto - O lobby Militar)

Pazuello se fez deputado porque estava absolutamente queimado para qualquer novo cargo e - aliás - usado como exemplo disso tudo, na verdade esse general já estava na reserva. O cargo que ocupou na saúde, lembro, ressalto e relembro, não foi eletivo.

Retorno...

Um oficial general dificilmente se candidata para cargos eletivos, e se o fizer e for eleito já está prescrito hoje na lei que será transferido para a reserva remunerada. Aliás, quando chega ao posto de oficial general um militar geralmente já completou o tempo necessário para ser transferido para a reserva remunerada então ir para a reserva para ele não faz diferença alguma.

Tratada como modernização e avanço democrático a norma proposta na verdade destrói conquistas que levaram décadas para chegar nas mão de categorias de base das Forças Armadas, menciono movimento dos sargentos de Brasília, movimento dos Marinheiros e outros. 

O texto de Jaques Wagner aparentemente foi combinado com generais de seu círculo de amizade justamente para parecer uma resposta a "isso tudo que aconteceu", contundente, relevante... solução de um grande problema. Tudo armação! É absolutamente ineficaz. 

A politização das Forças Armadas se dá pela cúpula e não pela base. Hoje a politização das cúpulas armadas é oficialmente institucionalizada...  Reveja os 3 pontos colocados acima... mas, tem muito mais por aí.

A nova PEC! Que nada é e nada resolve

Esse tema está sendo visto de forma muito torta! Peço que apontem militares da ativa que se elegeram nos últimos anos... e sua relevância...  isso é muito raro.

E aqueles que conseguem se eleger se estiverem na ativa já são por lei reformados compulsoriamente, independente dos postos e graduações e se não tiverem estabilidade têm que sair sem direitos.

Quem ainda não alcançou estabilidade não vai se candidatar pois isso acaba com a carreira, o cara vai ter que abandonar um projeto de vida.

Olha o que a lei diz: 

"... § 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade "

A única coisa que uma nova norma desse tipo provoca, mesmo inócua como é, é aumentar a distância entre a tropa e a sociedade, fazendo militares parecer mais diferentes ainda do que já são, colocando mais lenha na história de Nós contra Eles...  Quanto mais distantes da cidadania estão os militares, mais perigosos eles são para a democracia.

Com militares tendo menos direitos e - portanto - se sentindo cada vez mais distantes, multiplica-se a possibilidade de as baixas patentes - que muitas vezes foram freio e quem lutou pela democracia (reveja a história) - serem manipuladas pela cúpula e usadas contra a própria sociedade, da qual está cada vez mais distante, perdendo agora até o direito de serem candidatos a cargos políticos.

Robson Augusto - Militar R1 - Cientista Social - Especialista em Intelig. e Marketing 



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